24 de abr. de 2009
Se Eu Fosse Você!
Esse ano, no curso de teatro que faço no Sesi aqui de Birigui, estamos estudando o livro O Amor Que Acende A Lua, do Rubem Alves, que é lindo e totalmente apaixonante. Então resolvi reproduzir aqui, a cada dia, um pouquinho de cada texto. Estou começando hoje pelo texto Se Eu Fosse Você, que é da onde saiu uma das cenas da qual eu encenarei no espetáculo final, ele é verdadeiro e direto, tem algumas partes que achei prudente não colocar, mas se quiserem conferí-lo na íntegra leiam o livro. Garanto que não irão se arrepender... Até Mais...
"O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranqüila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: "Se eu fosse você" A gente ama não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa. E é na não-escuta que ele termina.
Não aprendi isso nos livros. Aprendi prestando atenção. Todos reunidos alegremente no restaurante: pai, mãe, filhos, falatório alegre. Na cabeceira, a avó, com sua cabeça branca. Silenciosa. Como se não existisse. Não é por não ter o que dizer que não falava. Não falava por não ter quem quisesse ouvir. O silêncio dos velhos...
...O taoísmo diz que o mundo é feito de encaixes. Tudo vem aos pares. O que não tem par não existe. Tudo é macho e fêmea: yang, yin. Quando as duas partes do par se encaixam faz "dac" - e a felicidade acontece.
Para haver encaixe é preciso que cada parte seja incompleta. Se as partes fossem completas os encaixes não seriam possíveis nem necessários...
...O vazio de um é o pleno do outro. O vazio de um é a felicidade do outro. Assim é o amor. A tristeza amorosa é o vazio desejando o pleno...
...A fala é masculina, O ouvir é feminino...
...Para ouvir não basta ter ouvidos. É preciso parar de ter boca. Sábia, a expressão: "Sou todo ouvidos". Todo ouvidos; deixei de ter boca. Minha função falante, masculina, foi desligada. Não digo nada. Nem para mim mesmo...
...Tem havido tentativas de produzir uma fala que seja só letra, sem a música. A ciência e a filosofia têm-se esforçado por esse ideal- uma fala da qual o corpo do que fala esteja ausente. Fala sem alma, só informação. A voz metálica, monótona, indiferente, de robô, dos serviços de alto-falantes dos aeroportos é uma expressão sensível desse ideal desumano. Você poderia imaginar um diálogo de amor com essa fala? Não existe voz humana que não tenha música...
...Esse é o absurdo segredo da escuta: é preciso não escutar o que se diz para se poder ouvir o que ficou não-dito, a música. É na música que mora a verdade daquele que fala.
Assim, se você quiser ouvir bem, não preste muita atenção na letra.
Parafraseando Uexküll: "Todo corpo é uma melodia que se toca." Seria bom se, nos cursos de psicologia, se lesse menos livros e se ouvisse mais música..."
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